O atual PR disse que “temos
o dever de defender o modelo político, económico e social”. É sintomático que
não diga que temos de defender a Constituição, mas sim um modelo político que
tem representado uma gravíssima perda de direitos laborais, precariedade, afastamento
dos cidadãos da vida nacional expressa na abstenção eleitoral; um modelo
económico que levou à estagnação, ao desemprego, ao endividamento do país
esmagado pelos juros da agiotagem que o BCE defende qualquer que seja o custo;
um modelo social que implica pobreza, precariedade, destruição do SNS e da
escola pública.
Por aqui se vê a dimensão do
político que não passou de um produto que a comunicação social controlada
promoveu durante anos como uma eminente personalidade política e superior
competência económico-financeira, professor emérito.
Afinal durante a sua
presidência viveu-se o maior retrocesso no Portugal democrático causado por um
“modelo” que ele na despedida acha que temos o dever de defender. Espantoso. O
homem não se enxerga, como se diz, de facto na opacidade dos seus raciocínios
“nunca tem dúvidas”.
Foi este reacionário, de
pensamento nulo, que os fazedores de opinião construíram como um salvador da
Pátria e garante da “estabilidade”, sempre acima dos partidos, apenas
condicionado pelos “superiores interesses da nação” (como se viu no caso BES e
no BPN, por ex.) levando os votantes a darem-lhe a sua confiança: coerentemente com as suas ideias sobre democracia a sua maioria
absoluta representou 23% do eleitorado…
Títulos nas primeiras
páginas apresentavam como pensamento profundo o que não passavam de banalidades
ou intriga política. Criticava à maneira salazarista o “fazer política”,
defendendo o conformismo dos consensos corporativistas ao sabor dos desejos de
oligarcas fraudulentos, uma chaga para o país não só pela
perversão económica e social que o capital monopolista introduz, como por serem
os principais responsáveis por crimes económicos que atingem cerca dos 50 mil milhões de euros por ano retirados ao Estado, como revelado pelo Observatório
de Economia e Gestão de Fraude da Faculdade de Economia. Valor que
“peca por defeito e tem tendência a crescer três a quatro mil milhões ao ano.”
O sector financeiro é aquele que mais está associado à evasão fiscal e ao
branqueamento de capitais decorrentes da corrupção.
Porém, não nos
enganemos, isto não é uma questão de. Cavaco Silva, a quem agora até os seus propagandistas
voltam costas. Era vê-los quando o incensavam e incentivavam a não dar posse a
um governo apoiado à esquerda. Não, não se trata do sr. Cavaco. Trata-se do “modelo”
que a direita pretende impor aos portugueses. Por isso, aqui fica a questão
para quem se der ao trabalho de rever as estratégias que puseram Cavaco na
presidência:
Alguma vez o
candidato – ou mesmo PR Cavaco – disse que faria tudo para não dar posse a um
governo com maioria na AR apoiado à esquerda?
Enfim, descubram
as diferenças: em que é que Marcelo se distingue de Cavaco?
E não falemos das aparências, do descritivo, mas do
ideológico, do conceptual.
Em que se
distinguem, principalmente ao apresentarem-se e serem apresentados como candidatos?