domingo, 13 de março de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO
2 – O SOCIALISMO DO SÉCULO XXI
No final do século passado, consciências atormentadas angustiavam-se na procura do “socialismo do século XXI”. Foi uma época em que certa intelectualidade brilhava tanto mais (como ainda hoje…) quanto mais vazio fosse o seu discurso, pia e respeitosamente escutados nos seus generosos tempos de antena.
Foi o tempo dos “novos paradigmas (quais?) da “modernidade” e como tal não chegava para espíritos de tão largos horizontes refugiavam-se na “pós-modernidade”. O lacinho nesta embalagem vazia: foi então uma certa ”3ª Via”.
Para colorir a o cinzentismo das perspectivas acusavam-se os que mostravam como o “rei ia nu” de dinossauros, de ortodoxos, etc.
Hoje já sabemos em que consiste o socialismo do século XXI: um mau “remake” do filme “Back to the future”. De facto, o futuro nos actos dos seus epígonos é deitar fora tudo o que os povos conseguiram de direitos e desenvolvimento humano e voltar ao liberalismo puro e duro do século XIX.
O sr. Tony Blair foi um precursor. A sua “3ª Via” consistiu apenas ir mais longe nos trilhos da sra. Tatcher. Lá como cá, o socialismo do século XXI teve e tem por objectivo privatizar tudo o que dê lucro – quem trabalha que pague os défices públicos, e não se queixe. Modernizar a administração, é reduzir salários e despedir trabalhadores da função pública – não lhes renovando contratos – e entregar contratos milionários a consultores privados.
Enquanto o desemprego aumenta e os direitos sociais são reduzidos drasticamente o ornamento retórico desta a farsa política, é “eficácia económica e justiça social”.
Porém nem tudo é mau neste “paradigma”: os lucros das maiores empresas e a parcela de rendimento da camada privilegiada (os intocáveis) sobem constantemente.
O argumento mais utilizado pelos epígonos do “socialismo do século XXI” é acusar de irrealistas as medidas que não podem ser contestadas por serem eminentemente justas. Justificam-se então com “a política do possível” e com o “socialismo realista”.
John Keneth Galbraith, responde-lhes: “ Quando se diz que alguma coisa é importante e sensata, mas politicamente impraticável, deve compreender-se que esta é a forma mais comum de proteger um interesse socialmente adverso”.
E já agora lembremos o que Antero Quental dizia à comissão eleitoral do PS em 1880:
“Haverá entre os partidos burgueses, ainda entre os que se reputam de mais radicais um só que subscreva tal programa? Não há, porque ele implica a destruição da sociedade de que eles são os naturais representantes. Radicais abstractos, os jacobinos recuam diante desta tremenda realidade com tanto horror como os conservadores. Um jacobino é um conservador incoerente com frases de demagogo. (…) Burgueses radicais a vossa república não é mais que a república do capital assim como a monarquia dos conservadores não é mais que a monarquia do capital”
Mas de que programa falava o Antero?
Falava de “alteração radical da ordem económica” ,“o fim do reinado da usura, a soberania do trabalho organizado, a igualdade económica, a organização do crédito como função colectiva”.
Não podia ser mais actual, embora venha do século XIX…
Sim, talvez isto pudesse constituir uma base séria para um “socialismo do século XXI”.

por
C D V C

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